sexta-feira, 16 de setembro de 2011
SOS Ilha Grande 4
Vamos anotar, guardar, fazer o calendário das promessas e acompanhar. Um olho na natureza e o outro no predador.
Ilha Grande ganhará área de proteção marinha até o fim de 2011
Por Emanuel Alencar
O Globo, 16 de setembro de 2011
RIO - Até o fim do ano, uma área marinha de 180 quilômetros quadrados no entorno da Ilha Grande, em Angra dos Reis, será protegida por uma unidade de conservação. A Secretaria estadual do Ambiente espera realizar em outubro uma audiência pública sobre a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha da Ilha Grande. Em seguida, a proposta será encaminhada para o governador Sérgio Cabral. O trecho, que vai de Mangaratiba até Paraty, tem um enorme potencial pesqueiro, ameaçado pela cada vez maior circulação de embarcações. Conforme O GLOBO vem noticiando desde quarta-feira, a falta de regulamentação da entrada de navios e plataformas de petróleo na baía ameaça a biodiversidade da região.
Documento constata desordem na região
Um relatório assinado por quatro técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) diz que a criação da APA é a forma mais adequada de "compatibilizar a conservação da natureza e o uso sustentável dos seus recursos naturais". O documento acrescenta que todas as atividades marítimas - com finalidades turísticas ou ligadas à exploração de petróleo - na Baía da Ilha Grande ocorrem hoje de forma desordenada.
A necessidade de preservar o porto com o maior desembarque de sardinha da costa brasileira é outro argumento em defesa da APA - foram capturadas na região mais de 12 mil toneladas do pescado num único mês, superando Santa Catarina. A criação da unidade marinha está inserida no plano de gestão integrada da Ilha Grande, projeto do Inea em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Os investimentos previstos nos próximos cinco anos chegam a R$ 46 milhões - dos quais R$ 4,1 milhões já foram liberados pelo Fundo Global para o Meio Ambiente, da ONU com o Banco Mundial.
O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, ressaltou que a criação de unidades de conservação marinhas é um mecanismo que teve êxito em São Paulo.
- A ideia não é fechar a porteira (aos navios), é ordenar. São Paulo saiu na frente e, para se proteger dos impactos do Pré-Sal, criou suas unidades de conservação marinhas. Queremos seguir o mesmo caminho. Com a APA marinha, criaremos regras para o espelho d'água - afirmou o secretário.
A falta de fiscalização dos órgãos públicos é outro problema. O superintendente do Inea na Baía da Ilha Grande, Júlio Avelar, informou ontem que o órgão não conta com qualquer embarcação para inspecionar navios petroleiros, plataformas e rebocadores na área. Avelar disse que precisa pedir embarcações ao Ibama e à prefeitura de Angra dos Reis. De acordo com o superintendente, há apenas dois fiscais para atuar no trecho marítimo.
Superintendência do Inea deve ganhar embarcações
Segundo ele, a Capitania dos Portos de Angra tem outros seis navios.
- A superintendência tem sete funcionários para fazer todos os serviços, do licenciamento à fiscalização. Minha maior preocupação é com o boom de embarcações na baía quando as operações do Pré-Sal na Bacia de Santos começarem - ressaltou Avelar, que teve a promessa de Minc de receber duas embarcações de apoio.
Ontem, o vice-presidente da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Abremar), Adrian Ursilli, disse ser favorável ao disciplinamento dos cruzeiros e transatlânticos na Baía da Ilha Grande. Mas acrescentou que as decisões precisam ser tomadas com antecedência. Em nota, o presidente da TurisAngra, Daniel Santiago, afirmou que a Ilha Grande está, com suas águas limpas e próprias para o banho, "de portas abertas para receber visitantes".
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quinta-feira, 15 de setembro de 2011
SOS Ilha Grande 3
A ideia de um "xerife verde" para a Ilha Grande me lembrou a série Flipper, do golfinho. O ator Brian Kelly interpretava o guarda Porter Ricks. Apesar das diferenças, o espírito da proposta é o mesmo.
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O Globo
SOS Ilha Grande 2
Boa notícia para os que amam e defendem a Ilha Grande, um paraíso em perigo permanente. Não sei como é a estrutura, mas a Ilha precisa de um "xerife verde", uma equipe independente que fiscalize a região 24 horas por dia.
Também já sugeri ao nosso Carlos Minc que faça umas "incertas" por lá, de barco, helicóptero...
Contra poluição: Minc diz que transatlânticos serão limitados na Baía de Ilha Grande
Por Emanuel Alencar
O Globo, 15 de setemebro de 2011
RIO - O secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, afirmou na quarta-feira que o número de transatlânticos será limitado na Baía da Ilha Grande, em Angra dos Reis. Minc disse ainda que promoverá, com a Capitania dos Portos, operações para coibir eventuais despejos irregulares de esgoto na região turística. As medidas foram anunciadas um dia depois de O GLOBO mostrar que o Ministério Público estadual recebeu um documento com imagens denunciando focos de poluição na baía .
- A limitação de transatlânticos é a mesma medida que adotamos em Búzios. No fim de outubro vamos lançar o plano de desenvolvimento sustentável da região, estabelecendo os critérios. Conheço a Lagoa Azul e reconheço que deve haver um controle mais forte. A gente não pode permitir em hipótese alguma que a Baía de Ilha Grande vire uma Sepetiba 2 - afirmou Minc, prometendo punir exemplarmente os que cometerem irregularidades.
Minc disse ainda que conseguiu a liberação de R$ 14 milhões do Fundo estadual de Conservação Ambiental (Fecam) para a execução de obras das estações de tratamento em três praias de Ilha Grande: Araçatiba, Saco do Céu e Provetá. A expectativa do secretário é que até o fim do ano estas estações estejam operando.
Presidente da Câmara diz que fiscalização é precária
O presidente da Câmara dos Vereadores de Angra dos Reis, José Antônio Azevedo Gomes (PCdoB), disse ontem, durante sessão especial, que o posto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do município não funciona e que, por conta disso, as inspeções em embarcações na Baía da Ilha Grande são prejudicadas. Segundo ele, o oficial responsável por coordenar as ações fica em Itaguaí, distante 91 quilômetros de Angra. A sessão para discutir as denúncias de poluição no paraíso turístico levou cerca de cem pessoas à Câmara.
Azevedo fez um apelo para que a Anvisa destaque um funcionário para Angra dos Reis. Ele acrescentou que as análises do conteúdo das águas de lastro (água do mar captadas pelas embarcações para garantir suas estabilidades e seguranças operacionais) trazidas pelos navios estão prejudicadas.
- A Anvisa tem um papel de extrema importância na inspeção de navios que chegam de outros países à Baía da Ilha Grande. Mas não temos o órgão ativo na cidade - reclamou o vereador.
Ao percorrer trechos da Baía de Ilha Grande, na tarde de quarta-feira, O GLOBO flagrou embarcações fazendo operações chamadas ship-to-ship, quando há transferência de petróleo entre os navios. O temor de possíveis vazamentos de óleo decorrentes deste processo é a maior preocupação de ambientalistas da região. Na audiência, o gerente do Terminal da Baía da Ilha Grande (Tebig), operado pela Transpetro, Virmar Muzitano, garantiu que estas trocas de combustíveis entre navios seguem normas internacionais de segurança.
- Fazemos estas operações há quase dois anos sem registrar nenhum acidente. Nossa equipe de contingência, para casos de emergência, estão em alerta 24 horas - garantiu o gerente. - São operações feitas no mundo inteiro. Fizemos testes e estudos durante um ano.
Capitania critica descuido de barcos de passageiros
O presidente da TurisAngra, Daniel Santiago, pediu cautela na averiguação das denúncias levantadas pelo dono de uma pousada da praia do Bananal, Carlos Kazuo:
- As informações precisam ter dados técnicos mais profundos. O desenvolvimento das atividades econômicas do Pré-Sal trarão impactos.
Em nota, a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro esclareceu que atua de forma preventiva realizando vistorias e inspeções em embarcações objetivando minimizar a ocorrência de acidentes, ou ações de poluição. O delegado da Capitania de Angra dos Reis, André Luis Silva, reforçou a importância de os flagrantes de poluição serem comunicados imediatamente aos órgãos de fiscalização. Ele disse ainda que, durante sua gestão, a maior causa de danos ambientais em praias da Ilha Grande tem sido o descuido de barcos de transporte de passageiros, e não de navios de cargas e plataformas.
- Escunas e saveiros muitas vezes acabam despejando resíduos oleosos na baía - afirmou o delegado.
Para o atendimento ao público, a Delegacia da Capitania dos Portos em Angra dos Reis põe à disposição o endereço eletrônico secom@dlangr.mar.mil.br e o telefone (24) 3365-0365
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O Globo
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
SOS Ilha Grande
É sacanagem! Por onde navega a polícia marítima? E a Capitania...? É caso de polícia! SOS Ilha Grande.
Poluição ameaça Lagoa Azul, cartão-postal da Ilha Grande
Por Emanuel Alencar
O Globo, 14 de setembro de 2011
RIO - A poluição num dos santuários da Ilha Grande mais apreciados por turistas - um trecho no mar conhecido como Lagoa Azul - será tema de uma sessão especial da Câmara dos Vereadores de Angra dos Reis, nesta quarta-feira, às 15h. Há um mês, o Ministério Público estadual recebeu um documento com denúncias sobre despejo de esgoto e outros poluentes, decorrentes de reparos de navios e plataformas de petróleo e do excesso de transatlânticos, entre a Lagoa Azul e a Ponta do Bananal. A convite do presidente da Casa, o vereador José Antônio Gomes (PCdoB), representantes de órgãos ambientais, da Capitania dos Portos e da Transpetro, que administra um terminal em Angra, foram convocados para discutir o assunto.
Na sessão, também serão debatidos os riscos de poluição provocados pela transferência de petróleo entre navios. A incidência de danos ambientais preocupa num momento em que o Porto de Angra passa por obras de ampliação e a circulação de embarcações aumenta a cada dia, impulsionada por atividades ligadas ao Pré-Sal.
Imagens revelam navios sendo pintados no meio da baía
O ponto que recebe a maior atenção de ambientalistas é uma área de cerca de 50 mil metros quadrados, distante dois quilômetros da Enseada do Bananal. A Marinha considera o trecho propício ao fundeio de embarcações - ou seja, onde navios e plataformas podem ficar estacionados. Mas a reclamação de moradores da ilha é que faltam parâmetros para ordenar o entra e sai de navios e plataformas do santuário.
Dono de uma pousada no Bananal, Carlos Kazuo é o autor do dossiê que foi enviado ao MP. No documento, constam imagens de vazamentos de óleo e denúncias de negligência ambiental de embarcações na Ilha Grande há quatro anos. Em 2009, ocorreu o caso mais grave: uma mancha de tinta proveniente da pintura de uma plataforma atingiu a Enseada do Bananal e o Sítio Forte. Há ainda imagens de navios tendo o casco pintado no meio da baía.
- A variedade de nacionalidades de navios que circulam pela Baía da Ilha Grande preocupa, pois não sabemos o que eles carregam nos cascos e nas águas de lastro. Há indícios de que uma espécie invasora de coral foi introduzida pelas embarcações - diz Kazuo.
Outras reclamações são o excesso de motores ligados próximo às praias e o despejo de materiais, como barras de ferros e lonas, no fundo do mar.
As análises das condições de balneabilidade das praias de Ilha Grande mostram que as límpidas águas características do lugar estão sob ameaça. O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) faz coletas periódicas em cinco pontos de quatro praias - Provetá, Araçatiba, Saco do Céu e Abraão. No último boletim, divulgado em fevereiro, a Praia de Provetá foi considerada imprópria para o banho.
Outro teste, feito em março pelo laboratório da Selo Verde Consultoria, credenciado pelo Inea, constatou alto índice de coliformes fecais entre a Ponta do Bananal e a Lagoa Azul: 1.100 por mililitro. Mas a gerente de Qualidade da Água do Inea, Fátima Soares, ressalta que é necessário ter uma série histórica com pelo menos seis análises para uma conclusão precisa sobre a balneabilidade.
A qualidade é satisfatória quando, em 80% ou mais de um conjunto de amostras obtidas em cada uma das cinco semanas anteriores, colhidas no mesmo local, houver no máximo mil coliformes fecais por cem mililitros de água, conforme estabelece a resolução 274 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Para a bióloga Denise Gueiros, responsável pela análise, a presença de 1.100 coliformes por mililitro indica contaminação a 50 metros da praia:
- Com certeza, houve contaminação no local por fezes humanas, pois o resultado ultrapassa os parâmetros comuns naquela região.
A própria atividade turística contribui para a degradação ambiental da Lagoa Azul, diz o superintendente regional do Inea na Ilha Grande, Júlio Avelar:
- Muitas embarcações jogam material orgânico nas águas. Mas a falta de saneamento é o principal problema.
Ele concorda que é preciso fixar parâmetros para a atracação de navios e plataformas na Baía da Ilha Grande. E reconhece dificuldades na fiscalização:
- É possível que haja plataformas que cheguem sem a anuência do Inea. Algumas irregularidades estão acontecendo. Por isso, é necessário um trabalho conjunto da Capitania dos Portos, do Inea e do Ibama.
Baía da Ilha Grande recebe 80 navios por mês
Para o presidente da Câmara de Angra, José Antônio Gomes, o objetivo da audiência é alertar para a poluição numa área de forte apelo turístico:
- Por mês, chegam 80 navios à Baía da Ilha Grande. Sem contar com as temporadas de férias. É preciso discutir uma alternativa para que essa maravilha seja preservada.
Já para o presidente da TurisAngra, Daniel Santiago, é preciso expandir as opções de roteiro turístico, para "desafogar as áreas com muita concentração de embarcações, como a Lagoa Azul".
A Capitania dos Portos de Angra não retornou as ligações do GLOBO. Já a Transpetro informou que não faz reparos navais na região de Angra nem opera plataformas.
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Gaspari, sempre genial
Excelente ideia de Elio Gaspari de rebatizar com o nome de Eduardo Paes a escola que ficou em último lugar em desempenho. Bela multa!
De Sergio.Buarque@edu para Dilma@gov
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 14/09/11
Afastem de mim esse cálice e troquem o nome da escola, chamem-na "Prefeito Eduardo Paes"
Companheira Dilma, Veja o que fizeram comigo. A Prefeitura do Rio deu meu nome a uma escola municipal da Barra da Tijuca, e ela foi a última colocada na lista de desempenho dos colégios da cidade. Fez 467 pontos, contra 761 do campeão (o São Bento) e 553 da média nacional. Meu primeiro impulso foi escrever ao prefeito Eduardo Paes repetindo-lhe um pedido do meu filho: "Pai, afasta de mim esse cálice". Tire o meu nome desse pecado. O Evaristo de Moraes, que está aqui comigo, lembrou que proibiu que dessem seu nome a presídios.
Criminalista, não queria ser associado a misérias. Você mesma viveu o absurdo de ser uma das detentas de um presídio chamado Tiradentes. Escrevo-lhe para que leve minha zanga ao prefeito. Ele tem medo de você.
Gastei meus primeiros 80 anos estudando nosso país, a vida e lecionando. Daqui, vi o que aconteceu com a repórter Cibelle Brito quando ela quis saber porque a minha escola foi reprovada. Dois professores trocaram algumas palavras com ela, mas não quiseram dizer seus nomes. Só os alunos falaram, queixando-se.
Companheira, olhe para a Escola Municipal Sérgio Buarque de Hollanda com atenção. Está mal conservada e os professores reclamam dos salários, mas há algo mais profundo. É a condição dos "desterrados em nossa terra". Os moradores daquele pedaço da Barra da Tijuca desterraram seus filhos para bons colégios, em outros bairros. Quem estuda lá são os desterrados de outras localidades, mais pobres.
Outro dia o Darcy Ribeiro (sempre encantado pela Leila Diniz) ria do desconforto causado na burocracia educacional pelas avaliações dos desempenhos das escolas. Os americanos transformaram o desempenho em pedra angular de seu sistema. Copiamos. Agora os americanos começam a criticar essa aferição, falamos em destruí-la. Tudo ou nada. Não entra no debate o absurdo de escolas que não servem aos moradores de suas localidades. A aferição é apenas uma medida. Sem mais nada, nada é. Sabendo que citar Sérgio Buarque dignifica qualquer texto, cito-me: "De todas as formas de evasão da realidade, a crença mágica no poder das ideias pareceu-nos a mais dignificante em nossa adolescência política e social".
Para que não se diga que estou num exercício livresco, faço-lhe uma proposta. Continuem a dar o nome dos outros a escolas, mas a partir de hoje, toda vez que um colégio ficar em último lugar no Enem, abaixo da média nacional, a homenagem será suspensa temporariamente, e a instituição, rebatizada com o nome do prefeito ou do governador. (No caso de escolas federais, com o seu.) Assim, peço à garotada da "Sérgio Buarque de Hollanda" que não queiram mal a este velho fuçador de documentos, mas, a partir de hoje, digam que estudam na Escola Municipal Eduardo Paes.
Despeço-me desejando-lhe um bom governo, certo de que este fundador do PT ainda não tem motivos para rasgar a carteirinha (nº 003). Passaram-se 75 anos da publicação do meu "Raízes do Brasil" e, felizmente, posso dizer que a democracia, no Brasil, já não é "um lamentável mal-entendido".
Sérgio Buarque de Hollanda
De Sergio.Buarque@edu para Dilma@gov
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 14/09/11
Afastem de mim esse cálice e troquem o nome da escola, chamem-na "Prefeito Eduardo Paes"
Companheira Dilma, Veja o que fizeram comigo. A Prefeitura do Rio deu meu nome a uma escola municipal da Barra da Tijuca, e ela foi a última colocada na lista de desempenho dos colégios da cidade. Fez 467 pontos, contra 761 do campeão (o São Bento) e 553 da média nacional. Meu primeiro impulso foi escrever ao prefeito Eduardo Paes repetindo-lhe um pedido do meu filho: "Pai, afasta de mim esse cálice". Tire o meu nome desse pecado. O Evaristo de Moraes, que está aqui comigo, lembrou que proibiu que dessem seu nome a presídios.
Criminalista, não queria ser associado a misérias. Você mesma viveu o absurdo de ser uma das detentas de um presídio chamado Tiradentes. Escrevo-lhe para que leve minha zanga ao prefeito. Ele tem medo de você.
Gastei meus primeiros 80 anos estudando nosso país, a vida e lecionando. Daqui, vi o que aconteceu com a repórter Cibelle Brito quando ela quis saber porque a minha escola foi reprovada. Dois professores trocaram algumas palavras com ela, mas não quiseram dizer seus nomes. Só os alunos falaram, queixando-se.
Companheira, olhe para a Escola Municipal Sérgio Buarque de Hollanda com atenção. Está mal conservada e os professores reclamam dos salários, mas há algo mais profundo. É a condição dos "desterrados em nossa terra". Os moradores daquele pedaço da Barra da Tijuca desterraram seus filhos para bons colégios, em outros bairros. Quem estuda lá são os desterrados de outras localidades, mais pobres.
Outro dia o Darcy Ribeiro (sempre encantado pela Leila Diniz) ria do desconforto causado na burocracia educacional pelas avaliações dos desempenhos das escolas. Os americanos transformaram o desempenho em pedra angular de seu sistema. Copiamos. Agora os americanos começam a criticar essa aferição, falamos em destruí-la. Tudo ou nada. Não entra no debate o absurdo de escolas que não servem aos moradores de suas localidades. A aferição é apenas uma medida. Sem mais nada, nada é. Sabendo que citar Sérgio Buarque dignifica qualquer texto, cito-me: "De todas as formas de evasão da realidade, a crença mágica no poder das ideias pareceu-nos a mais dignificante em nossa adolescência política e social".
Para que não se diga que estou num exercício livresco, faço-lhe uma proposta. Continuem a dar o nome dos outros a escolas, mas a partir de hoje, toda vez que um colégio ficar em último lugar no Enem, abaixo da média nacional, a homenagem será suspensa temporariamente, e a instituição, rebatizada com o nome do prefeito ou do governador. (No caso de escolas federais, com o seu.) Assim, peço à garotada da "Sérgio Buarque de Hollanda" que não queiram mal a este velho fuçador de documentos, mas, a partir de hoje, digam que estudam na Escola Municipal Eduardo Paes.
Despeço-me desejando-lhe um bom governo, certo de que este fundador do PT ainda não tem motivos para rasgar a carteirinha (nº 003). Passaram-se 75 anos da publicação do meu "Raízes do Brasil" e, felizmente, posso dizer que a democracia, no Brasil, já não é "um lamentável mal-entendido".
Sérgio Buarque de Hollanda
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